sábado, 16 de maio de 2020

Originais, RJ/1980, Quando a minha carne se apodrecer na face desta terra; Publicado:BH, 0160502020.

Quando a minha carne se apodrecer na face desta terra
E deixar de ser este ser ignóbil
Este ser inútil
E passar a ser um verme
Um verme puro em carne podre
Logicamente vou mudar
Vou sair desta fase de transição
E pôr fim na minha eterna metamorfose
Quando meu espírito evoluir
E desabitar meu corpo
E procurar ser mais real
E procurar ser mais além
Da minha inconsciência
Creio que poderei viver uma vida nova
Sem manchas e sem nódoas
Sem máculas e sem nada
Quando o infinito me pertencer
E o universo for inverso
E a vida for uma vida
O podre deixar de ser o podre
A carne deixar de ser a carne
E ser somente a carne
O espírito deixar de ser espírito
E ser somente espírito
O pensamento vai ser aceito
A filosofia vai ser entendida
Compreendida e praticada
Quando eu acordar deste sonho
E levantar deste túmulo
Desenterrar o meu cadáver
Catar os vermes do meu corpo
Varrer da minha mente este pesadelo
Serei um verme
Um verme limpo numa carne podre.

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