E sou o sangue da tua menstruação
E a tuberculose que ataca o teu pulmão
E sou o câncer em teus seios
E o pus do teu furúnculo
E sou o nojo que tens das coisas podres
E o mau cheiro que sai do esgoto
E sou o teu mau hálito
E a tua cárie dental
E sou o teu vômito
E o teu cuspe que deixas nas calçadas
Sou o teu pigarro
E a cera lá do fundo do teu ouvido
E sou a tiririca que juntou em teu pescoço
E a frieira que se juntou entre os dedos dos teus pés
E sou o teu calo
E sou a tua unha encravada
A espinha em teu rosto
E o cravo em tua pele
E sou o teu sangue venoso
Que se misturou com o teu sangue arterial
E sou a tua morte
E sou a tua sepultura
E a tua ruína
E a tua destruição
E sou o teu inferno
E o teu demônio
E sou o teu tridente
E as tuas algemas que te prenderam
E sou o teu coração
Sou o teu mau
O teu sal
E a tua pimenta
E sou o teu tempero
Sou o teu enterro
O teu começo o teu meio e o teu fim
E sou o alfinete enfiado no teu olho
Sou a tua doença
E a tua loucura
E sou a tua maluquice
E a tua velhice
E a tua ruga
E sou a tua vergonha
Sou a tua decepção
Sou o teu medo
E sou a tua alucinação
Sou a tua última palavra
E sou o teu atraso
E sou os teus problemas
Sou a tua depressão
E sou a tua oposição
Sou a tua dor
E sou a tua chatura
Sou o teu sofrimento
E sou a tua melancolia
E sou a tua tristeza
Sou o teu tudo
E sou os teus todos
E sou o teu nada
Sou a tua assombração
Sou a tua alma
E sou o teu espírito maligno
E sou as tuas confissões escatológicas.
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