quinta-feira, 14 de maio de 2020

Vila Sésamo, Coisas da Vida, Vida sertaneja; Publicado: BH, 0140502020.

E sou uma janela dum casebre
E sou uma gamela num quintal
E uma gameleira numa estradinha
E sou uma vassoura feita de mato
E a mão do pilão no pilão
E sou a cacimba do açude
A enxada na beira do riacho
E sou a água da moringa
E o enxadão de furar o chão
E sou a mata verde
E o mato bravio
Sou o leite da vaca para o queijo
E a manteiga e a coalhada e a nata
E sou o requeijão de barra
A rapadura de garapa de cana
Sou o engenho de cachaça
O pé de espigas de milho verde
E sou o pé de café
O cajueiro e o coqueiro
E sou o pé de limão
E a árvore do campo
E sou o campo do sertão
Uma cuia com carne seca
A farinha de mandioca para farofa
E a farinha de milho para o mingau
E a de tapioca para beiju
E sou o angu com couve
E sou a pamonha
E o caldeirão de tutu
Sou o rolo de fumo forte
E o cigarro de palha
E sou o cuspe do sertanejo
Gerado pelo fumo mascado
E sou o catarro escarrado pelo preto velho
E sou da roça e sou a roça
Sou do mato e dou o mato
E sou a batata assada
Sou a bomba estourada
Em noite de São João
E sou a noite de Santo Antônio
De quadrilhas e de cirandas
E sou o preconceito e a superstição
E sou o embornal do sertanejo
Cheia de amor e vazia de pão.

Nenhum comentário:

Postar um comentário