terça-feira, 24 de junho de 2014

Empresarial Nicolau Jeha, 8; BH, 01201002012; Publicado: BH, 0240602014.

Quando meu corpo baixar à sepultura
Meu espírito pairar sobre as águas
Minh'alma vagar sobre a terra
Levada pel vento sonolento
Como um pedaço de molambo
Um farrapo esfiapado de fato velho
Já for um fado entristecido
Nalgum rincão do além
Vós
Letras reais
Vós
Palavras de ouro
Vós
Filhos filhas da minha voz muda
Ficareis por aqui
A recontar esta saga maldita
A terra que envolverá meu corpo cadáver
Não será terra de lavoura
Fértil de substanciosa
Será uma terra tórrida de tostada
Sem seivas
Que asfixia as raízes
As sementes não vingam
Secam antes de brotar
O ser passará a ser
O que antes não era ser
As poesias esquecidas nas catacumbas
Os poemas aprisionados nas masmorras
As elegias que cada cemitério esconde
Em suas reentrâncias
Em vida não cantei uma ode com potência de tenor
Com singeleza de aedo castrato
Em vida não celebrei a alegria
Castrati não fui uma nau triunfal
Um castelo no pícaro duma encosta
A certeza que habitava o meu coração
Era a de ter a tristeza por companhia
Porém
Tenho uma carta na manga
Sou um jogador facínora trapaceiro
Escondo cartas nas mangas
Como um desleal desonesto
Para ganhar o jogo da vida
Quando pensam que bateram a parada
Dou um sorriso de bandido
Olho de soslaio
Puxo uma de vós
De preferência de ouro
Quando notam que usei de deslealdade para ganhar
O salão vira uma escória só
Não sabiam que vós sois o meu trunfo
A resgatar a registar a minha história

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