terça-feira, 12 de março de 2013

Bertold Brecht, A lenda do Soldado morto; BH, 0120302013.


Durava já seis anos a guerra
E a paz não aparecia
Então decidiu-se o soldado
E morreu como um herói
Mas a guerra não terminava
E o rei vendo morto o soldado
Ficou muito triste e pensou:
Morreu ele antes do fim.
O sol esquentava o cemitério
Onde o soldado jazia em paz
Até que um noite chegou ao front
Um médico militar
Tiraram o soldado da cova
Ou o que dele sobrou
E o médico disse
“Tá bom pro serviço
Ainda tem muito pra dar!”
Saíram levando o soldado
Que já todo apodrecia
Rezavam em seus braços duas freiras
E uma puta qualquer
E como cheirava a morte
Um padre ia à sua frente
Soltando nuvens de incenso
Pra disfarçar o fedor
Uma banda puxava o andor
Fazendo bum bum tara trá
Pra que o soldado marchasse
Como no batalhão
Dois enfermeiros o erguiam
Para mantê-lo de pé
Pois se caísse por terra
Virava um monte de lixo!
Na frente um homem de fraque 
Marchava, usando uma gravata 
Um bom cidadão consciente 
um
 “Patriota da Pátria Amada” 
Tambores e gritos saudavam 
A mulher, o padre e um cachorro 
O soldado ia morto oscilando 
Qual um macaco de porre 
E quando cruzavam as cidades 
Ninguém enxergava o soldado 
Mas todos entravam na marcha 
Gritando: “Pela Pátria lutar!” 
Agitavam bandeiras rasgadas 
Para esconder o defunto 
Que só se via de cima 
Mas em cima só brilham as estrelas…
E as estrelas nem sempre aparecem
Foi quando outro dia nasceu
Então de novo o soldado morreu
E foi outra vez enterrado!

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