domingo, 24 de março de 2013

Pier Paolo Pasolini, Súplica a minha mãe; BH, 0240302013.


É difícil dizer com palavras de filho
Aquilo a que intimamente bem pouco me pareço.
És a única no mundo que sabe o que esteve sempre
No meu coração, antes de qualquer outro amor.
Por isso tenho de dizer-te o que é horrível sabe: 
É na tua graça que nasce a minha angústia.
És insubstituível. 
Por isso está condenada
À solidão a vida que me deste.
E eu não quero estar só.
Tenho uma fome infinita
De amor, do amor de corpos sem alma.
Porque a alma está em ti, és tu, mas tu
És minha mãe e o teu amor é a minha servidão:
Vivi a infância como escravo desse sentimento
Supremo, irremediável, de um fervor imenso.
Era a única maneira de sentir a vida,
A única cor, a única forma: agora terminou.
Sobrevivemos: e é o caos
De uma vida que renasce fora da razão.
Suplico-te, ah, suplico-te: não queiras morrer.
Estou aqui, sozinho, contigo, num Abril futuro…

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