segunda-feira, 20 de maio de 2013

Não chegamos a conhecer a cor do sangue de Frank Sinatra; BH 0120102000; Publicado: BH, 0200502013.

Não chegamos a conhecer a cor do sangue do Frank Sinatra,
Da mesma maneira que nos chocamos com a cor
Do sangue de John Lennon, vermelho e vivo e quente,
Igual toda a trajetória da vida que ele levou;
John Lennon é um dos pedaços que me basta,
Até hoje John Lennon é um dos pedaços com que fico satisfeito,
Usou e abusou da inteligência e da sabedoria;
Mostrou a sensibilidade e a genialidade à flor da pele,
Criou e usufruiu da cultura e não fez mal,
Não se sentiu mal e nem infeliz ao falar em amor;
Ao uivar pela paz, mesmo sem ser ouvido
E se estivesse vivo ainda hoje, tenho a certeza,
Que estaria a incomodar Boris Iéltsin pelos bombardeios,
Estaria a abominar o Vladimir Putin por causa da Chechênia; e
Estaria a bradar contra: as crianças mutiladas,
Os campos de refugiados abandonados e as guerras;
A morte de John Lennon calou a voz que feria
Os ouvidos daqueles que odeiam a paz e amam a guerra
E até hoje desconheço outra voz que ocupe o seu lugar;
Muitas vozes se levantam e gritam e uivam e ladram,
Mas não têm a profundidade e a ferocidade
Que tinha a voz de John Lennon, voz de fé e de luz
E que fazia tremer o mais poderoso dos poderosos,
Que o fazia sentir vergonha dos seus atos,
O mais alto componente da aristocracia inglesa,
Ou norte-americana, ou mesmo mundial;
E nunca pegou em uma arma, nunca deu um tiro
E este meu pedaço foi embora com cinco tiros;
Mas ficou a metralhadora da sua música,
Ficou o tiroteio dos seus versos e os torpedos
Da sua língua e da suas poesias, ficou o estouro
Causado por todo o seu comportamento;
E ao juntar todos os pedaços dos meus pedaços
E quero me formar um dia uma muralha,
Uma pirâmide, ou uma ponte donde 
Atravesse para encontrar os outros que
Seguiram adiante e não me esperaram;
E tenho fé que irei para lá também,
Fortalecido como se fosse de luz do sol,
Esclarecido nas trevas como se fosse de luz da lua,
Embevecido como se fosse um gênio e
Possuidor da chave da garrafa da libertação;
E onde souber que existe um pedaço,
Num palheiro, ou no fundo do mar;
No Inferno de Dante, ou no céu de sombras,
Lá estarei para buscar, aonde o vento não for,
Aonde a chuva não chega, onde o pensamento
Jamais poderá habitar; e habitarei para trazer
A pedra que não quer ser removida,
Da porta do sepulcro por causa da ferida;
E que em toda despedida choramos de dor,
Na cavalgada não encontramos o apaziguador,
Só o triturador dos nossos ossos e corações;
Os incineradores e alto-fornos, onde centenas de almas,
Transformaram-se em cinzas e fumaças de incensos,
Esquecidas pelo tempo; e pelas mentes que
Já se ocupam com futilidades e perderam,
A capacidade de buscar na memória o horror,
De todos os grandes crimes hediondos cometidos,
Pela humanidade em nome da humanidade;
E não suporto mais a continuidade dos fatos,
Ver a história se repetir à toda hora na nossa cara,
Ver que os mutiladores de crianças estão impunes,
Os assassinos de almas inocentes estão impunes,
Os senhores das guerras continuam com seus intentos
E não sentem nem remorso e nem vergonha,
Por espalharem cadáveres na superfície do planeta;
Chega de morticínio em vão e sem causa,
Chega de matança indevida e por nada;
País nenhum tem o direito de manter outro país,
Sob o seu jugo, a ditar o destino e a regra do povo;
Todo país tem o direito de ser livre e à liberdade,
Liberdade para a Pátria Basca e Cuba, liberdade,
Liberdade para a Chechênia e para a Palestina, liberdade,
Liberdade para Serra Leoa e para a Cashemira, liberdade,
Liberdade para todas as províncias e colônias,
Que por acaso vivam sob a tirania de
Qualquer potência, que deseja e queira,
Mandar na vida  social e econômica, liberdade;
Deixeis que os povos tracem seus próprios
Destinos e caminhos e estradas e soluções;
Só um pedaço me basta e não quero mais do
Que um pedaço desta pedra para derrubar,
Os gigantes que querem nos esmagar; e
Que ao nos juntar, todos nós formemos uma
Imensa e uma grande barreira, para não deixar,
Que a nossa água flua pelos dedos;
E nossas canções se percam no vento, sem
Chegar aos ouvidos sedentos por canções
De amor e de justiça e de paz e de felicidade;
Nas cabeças deles só as nossas pedradas,
Para que por onde passemos, consigamos
Atingir os nossos objetivos; e deixar as nossas
Mensagens escritas, com os nossos sangues,
Nas cascas das feridas crônicas, que não
Poderemos suportar mais, sem nos manifestar;
Pelo fim da infelicidade e da ignorância,
Pelo preservação da cultura do bem e da boa educação,
Pela preservação das histórias dos nossos heróis;
Que nossos filhos sintam orgulhos como nós
E aprendam a fazer história e a criar a cultura,
A saga e a meta traçadas no horizonte,
Com a glória e com a honra e com o destemor;
Firmeza na voz e no espírito,
Rochedo onde a alma encontre segurança.(2)

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