sexta-feira, 17 de maio de 2013

Vi um biólogo a chorar e a querer rasgar o seu diploma de biólogo; BH, 0210102000; Publicado: BH, 0170502013.

Vi um biólogo a chorar e a querer rasgar o seu diploma de biólogo,
Revoltado pelo óleo que deixaram derramar na Baía da Guanabara;
Vi um biólogo a chorar de indignado pelo crime ambiental que cometeram,
Ao deixarem derramar óleo nas águas das praias do Rio de Janeiro; e
Chorava pela morte das aves, dos caranguejos, dos peixes e dos siris,
No nosso país, onde a fauna, a flora, a natureza não são
Respeitadas e preservadas; é a primeira vez que vejo um
Homem derramar suas lágrimas de dor e desespero por
Nada poder fazer para salvar e restabelecer o equilíbrio ecológico;
No nosso país as matas queimam dias e dias e meses,
As árvores são cortadas e arrancadas e destruídas;
As florestas são dizimadas em infinitas queimadas
E nunca presenciei uma chamada autoridade,
Com pelo menos uma palavra de revolta e de indignação;
Nossas covardes e sórdidas e sujas autoridades só sabem
Se lamentar quando perdem um benefício de mordomia,
Quando perdem uma parcela de salário, um pedaço
Da mamata, da maracutaia e da jogatina;
Só choram quando não participam da corrupção,
Da venda e da entrega predatórias da nação;
Nós o povo, que não podemos ler jornais, não podemos
Assistir televisão, não podemos escutar rádio, pois,
A mídia é toda controlada por aqueles que defendem
Os interesses das nossas chamadas autoridades e por isso
Nunca tomamos conhecimento da verdade e sim do
Que só interessa a eles, à burguesia e à elite;
Uma queimada não preocupa a ninguém, continuaremos
A sorrir, a ir para campos de futebol, para quadras de escolas
De samba; continuaremos a beber as nossas cervejas, não é conosco,
Não somos nós que temos que levantar a bandeira da
Proteção ecológica, preservação ambiental, conservação da natureza;
E quero ser solidário com esse biólogo chorão,
E também quero chorar com ele e junto dele, com
A mesma dor e a mesma pena: pena dos nossos chamados
Homens públicos, pena dos nossos falsos mandatários,
Nossos bonecos e fantoches, nossos representantes de nada;
Quero chorar também e derramar todas as minhas lágrimas,
Pelos cadáveres das aves cobertos de óleos escuros e das outras
Que esperam nas pedras, sem poderem voar, a hora da morte;
Enquanto em Brasília e nos palácios das nossas capitais,
Os ocupantes das cadeiras importantes riem de boca cheia,
De olhos esbugalhados e de barrigas fartas e cabeças vazias;
E zombam da natureza, das águas, dos mares, dos rios,
Das florestas, das chapadas, dos morros, das montanhas,
Das ervas, dos capins, das relvas, dos córregos, dos riachos,
Das cachoeiras, das cascatas, das corredeiras e dos homens do povo;
Zombam do homem que defende o verde e o quer preservar,
Zombam de tudo que podem, sem a menor consideração,
O menor pudor, remorso e vergonha, mesmo ao saber,
Que infelizmente, a história tem que registrar os atos,
Os desmandos, os malfeitos e as mazelas que eles fazem;
Querem permanecer nos cargos e voltar sempre a eles:
Meu povo, não jogues mais o teu voto fora, não votes mais
Em senador, deputado então, nem falar, vereador,
Prefeito, governador, presidente, não votes mais, meu povo;
Manda essa cambada trabalhar, em vez de ficar aí,
A comer do bom e do melhor, com o dinheiro público
E ainda a fazer pouco caso do povo e dos eleitores cidadãos;
Temos que dar um basta a essa corja de ladrões,
Temos que dar um basta à entregação e à destruição
Deste país entregue nas mãos de bandidos e que
Só legislam em benefícios próprios, ao defender e ao manter
Os interesses pessoais e a preterir os interesses do povo;
E sinto asco e vergonha desses homens,
E já sinto orgulho do meu filho Lucas,
Lucas Ivanovitch Furtado Medina e sinto orgulho,
Sinto muito orgulho de ti, tu pelo menos não vais
Fazer o que esses homens fazem; já pensaste se 
Fosse o pai de Adolf Hitler, em vez de ser o teu pai?
E morreria de infelicidade e amargura e remorso;
Já pensaste se em vez de ser o teu pai, e fosse
O pai do Fernando Afonso Collor de Mello? e morreria
De vergonha, de dissabor e tristeza, aflição e terror;
E se fosse a mãe do Fernando Henrique Cardoso, vulgo FHC?
A pior e mais mesquinha e ignóbil figura que
Já vi nos palácios de Brasília e nos meios da mídia;
Graças a Deus, meu filho e sou só o teu pai
E sei que não sofrerei contigo, sei que serei
Feliz e saberei te amar, sem precisar sentir o ódio,
Que sinto por esses inimigos da humanidade;
Mal à humanidade sei que tu nunca causarás,
Não vais reinventar a bomba atômica e nem vais
Ficar a sorrir e a zombar, quando a Amazônia
Estiver a queimar, ou quando cidades estiverem
Debaixo d'água em épocas de enchentes;
Tu não vais abrir campos de concentração e de refugiados,
E nem vais queimar pessoas em alto-fornos, ou bombardear
As cidades com as suas escolas, hospitais, parques e lares;
E te amo, Lucas e não precisas mudar nunca,
Sejas sempre assim do jeito que tu és, mesmo sem
Compreender e entender o que é o amor dum pai;
E quando a morte vier, vai saber que tu não
Colaboraste com o fim da espécie e com o fim do mundo;
Não colaboraste com o fogo nas florestas e as devastações
E não colaboraste com o óleo no azul das águas do mar;
Quando tudo acabar, tu vais estar isento de qualquer
Que seja a culpa e o pecado e a mágoa e mancha 
E nenhuma nódoa ficará, mesmo em tua alva pele;
E quando chorar outra vez, chorarei de contentamento,
De alegria e júbilo, de gozo e de prazer, de felicidade total;
Tantos pais e tantas mães, que ficaram desiludidos,
Com os filhos que colocaram no mundo; e
Quando chorar vai ser de verdade e sem mentira,
Sem falsidade e sem ilusão, sem enganação e sem lorota;
Quando chorar é para fazer todo mundo sentir junto,
O que estarei a sentir e sem esconder e fugir; e ao
Romper as barreiras e as amarras do medo e da covardia, ao
Romper as agruras e os empecilhos que nos deixam
Estendidos nos nossos próprios rastros, pegadas e marcas,
Onde nos conhecemos por não termos as impressões
Digitais e mentais e as opiniões impostas por meios estranhos
Aos nossos meios de convivência, permanência e estadia,
Tudo isso só será possível até o dia em que
De mãos dadas, braços dados, desprezarmos as forças
Que sustentam a burguesia, a elite e a classe dominante;
Senão nunca será possível e nem nunca não teremos outra ocasião,
Para darmos às mãos do amanhecer ao crepúsculo.

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