quinta-feira, 9 de maio de 2013

Tomás Antônio Gonzaga, Marília de Dirceu, Lira XXXI; BH, 090502013.

O tirano Amor risonho
Me aparece e me convida
Para que seu jugo aceite;
E quer que eu passe em deleite
O resto da triste vida.

"O sonoro Anacreonte
(Astuto o moço dizia)
"Já perto da morte estava,
"Inda de amores cantava;
"Por isso alegre vivia.

"Aos negros, duros pesares
"Não resiste um peito fraco
"Se o amor o não fortalece:
"O mesmo Jove carece
"De Cupido, e mais de Baco".

Eu lhe respondo: "Perjuro,
"Nada creio do que dizes;
"Porque já te fui sujeito,
"Inda conservo no peito
Estas frescas cicatrizes.

"Se o mundo conhece males,
"Tu os maiores fizeste,
"Sim, tu a Tróia queimaste,
"Tu a Cartago abrasaste,
"E tu a Antônio perdeste".

Amor, vendo que da oferta
Algum apreço não faço,
Me diz afoito que trate
De ir com ele a combate
Peito a peito, braço a braço.

Vou buscar as minhas armas;
Cinjo primeiro que tudo
O brilhante arnês, e à pressa
Ponho um elmo na cabeça,
Tomo a lança, e o grosso escudo.

Mal no campo me apresento,
Marília (oh Céus!) me aparece:
Logo que os olhos me fita,
O meu coração palpita,
A minha mão desfalece.

Então me diz o tirano:
"Confessa, louco o teu erro;
"Contra as armas da beleza
"Não vale a externa defesa
"Dessa armadura de ferro".

Nenhum comentário:

Postar um comentário