terça-feira, 26 de dezembro de 2017

O que empolga-me a escrever não é a inspiração; BH, 070110302001; Publicado: BH, 0230702013.

O que empolga-me a escrever não é a inspiração
Nem é o dever é só o saber que na minha
Decadência no total abatimento do meu espírito
No meu empobrecimento mental na minha
Corrução do meu ser no estrago em que se
Encontra o que decai dentro de mim ainda
Encontro palavras ainda encontro letras ainda
Encontro o que fazer com o decadátilo que
Tenho de cada um dos meus dez dedos trago um
Cardo igual ao peixe que tem dez espinhos em
Cada barbatana peitoral tal o decadáctilo tenho
Também as minhas palmas nas costas em todas
As décadas que vivi meus pecados subiram
Mais do que a dezena os meus pecados capitais
Atingiram a série de dez no espaço de dez dias
Pequei mais do que dez anos pequei
Mais do que toda a humanidade que já existiu
Desde o início da Terra parte de minha obra
Jamais poderá ser composta em dez capítulos
Ou em dez livros a minha silhueta só em chapa
De madeira lavrada em relevo minha imagem
Não serve para estampa para modelos para
Projetos só risco debuxo desenho de bosquejo
Não adianta tentar planear meu ser não dá
Para desenhar minh'alma impossível
Debuxar meus ossos esboçar minha medula
Delinear minhas entranhas trago na mandíbula
O esgar debuxante das trevas devoradoras
Sou a própria dor que debuxa meu ego
Sou o meu próprio debuxador gostaria
De apresentar a minh'alma de moça de
Quinze anos à vida social é o estrear
Para a vida é o meu começar a viver
O meu debutar de mocinha que faz sua
Estréia de debutante social mas por fora
De mim é só debulho só resíduo de grãos
Debulhados sinto-me alimento triturado
Em princípio de digestão nos estômagos
Dos ruminantes todo universo que me cerca
Só quer mesmo é debulhar-me é separar-me
Do invólucro de proteção esbagoar a ninha
Defesa tirar a minha pele como se tira a pele
Dos frutos descascar meu corpo numa
Debulhadeira numa máquina de debulhar
Cereais ou num aparelho para debulhar tudo
Como num debulhador a minha debulha
A minha descasca o separar o grão da
Espiga é a minha morte nem o debrum
A fita que se prega dobrada sobre a borda
Dum tecido para o guarnecer ou segurar a trama
Tem mais a capacidade de segurar a minha
Felicidade aqui no meu destino
Ao pender no abismo ao abater-me sobre o
Precipício ao curvar as costas ao peso da angústia
Ao inclinar a coluna que faz-me pôr de
Bruços debruçar para que possa enxergar-me
A dor fustiga-me com a ânsia não deixa-me
Guarnecer as minhas fraquezas ornar-me com
A verdade orlar definir ao contorno de mim o
Debruar da liberdade como um cavalo com pêlos
De listas brancas a voar debruado pelos campos
Floridos das tardes o que empolga-me ao escrever
Não é a imaginação que anseio possuir não é o
Pensamento que lateja a minha cabeça nem
Os entes aprisionados dentro de mim é só
A ação de debulhadeira da máquina duma
Indústria de fiação de tecelagem é a mulher
Que trabalha em debruns é o debrear do fazer
O motor dum veículo automóvel entrar em
Ponto morto sou o único morto que escreve
As próprias mensagens sem necessitar dum psicógrafo
Sou o único cadáver que faz debordar a sua poesia
Extravasar seu poema transbordar num debordamento
Pessoal toda debocheira da morte com grande troça
Deboche com as trevas zombaria com o outro lado
É por isto que escrevo com excesso escrevo com
Desregramento de costumes com devassidão
Libertinagem é a força da mangação que me empolga
Nesta hora só que ninguém acredita em mim nem eu

Nenhum comentário:

Postar um comentário