sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Levei quarenta e cinco anos; BH, 0250502000; Publicado: BH, 01801102011.

Levei quarenta e cinco anos,
Para descobrir a minha esquizofrenia,
E levarei mais quarenta e cinco anos,
Para me curar do meu estado esquizofrênico;
E o instrumento químico destinado
A medir a quantidade de anidrido
Carbônico duma mistura gasosa,
E esqueci antes do antracômetro e
Nem cheguei a ser um antracomântico ou
Ter tudo relativo à antracomancia;
E nem tento me adivinhar,
Pelo exame do carvão incandescente,
Pois sei que em mim,
Nada vou encontrar;
Só a minha alma que
Infelizmente é semelhante ao carvão;
Meu espírito semelhante ao antraz;
Tudo escuro como a antracoide,
O mais denso dos carvões fósseis,
Negros, de brilhos vítreos, paupérrimo
Em substâncias voláteis e de grande
Poder calórico, empregado como
Combustível nos fornos da cal ou
Vidraria, mas que não serve,
A não ser para o antracite,
E não traduz a luz necessária,
Para clarear o antracífero que carrego
Nas entranhas perdidas do meu ser;
Meu ego antraceno químico inorgânico,
Hidrocarboneto policíclico de fórmula
C14H10, com três núcleos benzênicos,
Obtidos  de alcatrão e de grande
Valor para a indústria de corantes;
E este antozoário anônimo,
Espécime da classe dos Celenterados,
De pólipos com a cavidade
Gastrovascular dividida por septos,
Morrerei com a esquizofrenia nos sapatos.

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