terça-feira, 8 de novembro de 2011

Fernando Pessoa, Às vezes entre a tormenta; BH, 0801102011.

Às vezes entre a tormenta,
Quando já umedeceu,
Raia uma nesga no céu,
Com que a alma se alimenta.
E às vezes entre o torpor
Que não é tormenta da alma,
Raia uma espécie de calma
Que não conhece o langor.
E, quer num quer noutro caso,
Como o mal feito está feito,
Restam os versos que deito,
Vinho no copo do acaso.
Porque verdadeiramente
Sentir é tão complicado
Que só andando enganado
É que se crê que se sente.
Sofremos?
Os versos pecam.
Mentimos?
Os versos falham.
E tudo é chuvas que orvalham
Folhas caídas que secam.

Nenhum comentário:

Postar um comentário