sexta-feira, 29 de março de 2019

Amor, Carlos Drummond de Andrade; BH, 090202011.

Amor - pois que é palavra essencial
Comece esta canção e toda a envolva.
Amor guie o meu verso, e enquanto o guia
Reúna alma e desejo, membro e vulva.

Quem ousará dizer que ele é só alma?
Quem não sente no corpo a alma expandir-se?
Até desabrochar em puro grito
De orgasmo, num instante de infinito?

O corpo noutro entrelaçado,
fundido, dissolvido, volta à origem
Dos seres que Platão viu completados;
É um, perfeito em dois; são dois em um.

Integração na cama ou já no cosmo?
Onde termina o quarto e chega aos astros?
Que força em nossos flancos nos transporta
A essa extrema região, etérea, eterna?

Ao delicioso toque do clitóris,
Já tudo se transforma num relâmpago,
Em pequenino ponto desse corpo
A fonte, o fogo, o mel se concentraram.

Vai a penetração rompendo nuvens
E devassando sóis tão fulgurantes
Que nunca a vista humana os suportara,
Mas, varado de luz, o coito segue.

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