quinta-feira, 28 de março de 2019

Ao ser um acéfalo; BH, 0100601999; Publicado: BH, 01º0102013.

Ao ser um acéfalo
Um ser sem cabeça
Um índio sem chefe
Não pude fazer a ti
Um aceno qualquer
O menor sinal feito
Com a cabeça ou com os olhos
Ou com as mãos
Para te chamar a atenção
Avisar que
Estava aqui do lado de rora
Doutro lado da rua
Na tua contra-mão
Para aprovar com a boca o teu sabor
No convite dum beijo
Beijo cheio de aceiramento
Temperado com aço
Que a gente ver o aceiro fazer
À boca do alto-forno
Beijo de aço quente derretido
Beijo agudo forte
Minh'alma é um terreno desbastado
Em voltas de matas
Plantações ou propriedades alheias
Para evitar a propagação
Desse incêndio de paixão
Que me invade o coração
Só aceirar o teu corpo febril
Na aceitação do meu abraço carente
Sou o aceitador de tudo
Que parte de ti
Faz-me gente gemente
E sei que este meu aceitamento
Pode até me arruinar
Pois ser nenhum deve
Entregar a outro
Igual me entreguei a ti
A ponto de me tornar tão aceitante
Que até as tuas descargas
Recebo se me são oferecidas
Aprovo mesmo sem gosto
Acolho de bom agrado
Assino para pagar o aceite
De qualquer letra de câmbio
Duplicata ou fatura
Que por ventura
Tenhas deixado pendentes

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