Tenho as pernas tortas
Sou cambaio cambeta
Meu andar acambetado
Desengonçado se revela de longe
Não sei andar
Sem me acambetar
O meu açamo me aperta
De vez em quando
O cabrestilho que se põe
No meu focinho de animal
Para impedir que coma
Que morda alguém
Minha focinheira
Minha mordaça
Mas sou manso de espírito
Ppobre de coração
Incapaz de fazer mal
A quem quer que seja
Estou acampado
À beira da estrada
Instalado num acampamento
No melhor lugar
Que o meu dono achou
Que deveria ficar
É aqui que vou acampar
Gritou ao meu ouvido
Instalou-se logo
Alojou-se no campo
Ao lado da cerca
Que dividia a estrada
Da campa do pequeno cemitério
Meu pelo acamurçado escurecido
Tremia de vez em quando
Não sei se de frio
Ou para espantar mosquitos
As últimas acanãs
As aves de rapina
Das famílias dos falconídeos
Vinham às minhas costas
Catar meus carrapatos
Meus rodoleiros cheios de sangue
Do rio acanalado
Que tem forma de cana
Subia um ruído
D'água cristalina
Que me fazia fachar os olhos e sonhar
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