terça-feira, 26 de março de 2019

Álvaro de Campos/Fernando Pessoa, Ah, um soneto; BH, 030202011.

Meu coração é um almirante louco
Que abandonou a profissão do mar
E que a vai relembrando pouco a pouco
Em casa a passar, a passar...

No movimento ( eu mesmo me desloco
Nesta cadeira, só de o imaginar )
O mar abandonado fica em foco
Nos músculos cansados de parar.

Há saudades nas pernas e nos braços.
Há saudades no cérebro por fora.
Há grandes raivas feitas de cansaços.

Mas - esta é boa! - era do coração
Que eu falava... e onde diabo estou eu agora
Com almirante em vez de sensação?...

                                                                           12/10/1931

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