quinta-feira, 3 de setembro de 2020

ALLEN GINSBERG, POEMA DE AMOR SOBRE UM TEMA DE WHITMAN.

Entrarei silencioso no quarto de dormir 

e me deitarei entre noivo e noiva,

esses corpos caídos do céu esperando nus em sobressalto,

braços pousados sobre os olhos na escuridão,

afundarei minha cara em seus ombros e seios, respirarei sua pele

e acariciarei e beijarei a nuca e a boca e mostrarei seu traseiro,

pernas erguidas e dobradas para receber, 

caralho atormentado na escuridão, atacando

levantado do buraco até a cabeça pulsante

corpos entrelaçados nus e trêmulos, 

coxas quentes e nádegas enfiadas uma na outra,

e os olhos, olhos cintilando encantadores, 

abrindo-se em olhares e abandono,

e os gemidos do movimento, vozes, mãos no ar, mãos entre as coxas,

mãos na umidade de macios quadris, palpitante contração de ventres

até que o branco venha jorrar no turbilhão dos lençóis

e a noiva grite pedindo perdão e o noivo se cubra de lágrimas de paixão e compaixão

e eu me erga da cama saciado de últimos gestos íntimos e beijos de adeus —

tudo isso antes que a mente desperte,

atrás das cortinas e portas fechadas da casa escurecida

cujos habitantes perambulam insatisfeitos pela noite,

fantasmas desnudos buscando-se no silêncio.

Nenhum comentário:

Postar um comentário