Se escrevesse algo emocionante
Que emocionasse as pessoas que tocasse
No coração no fígado nos rins
Pâncreas baço estômago acelerasse a
Produção de adrenalina no organismo
Provocasse na mente a sensação dum
Filme de Alfred Hitchcock nos olhos
O quadro duma fotografia da lente de
Sebastião Salgado ou duma tinta de
Pablo Picasso ou duma tela de Salvador
Dali seria um poeta feliz não seria maldito
Malvisto menor menos seria um poeta do
Tamanho do meu poeta pantaneiro Manoel
De Barros porém nada sei fazer para me
Emocionar a emocionar as pessoas chocá-las
De vez já tenho a minha Etiópia já tenho a
Minha África inteira dentro do meu peito
Já tenho as minhas guerras as minhas
Fomes as minhas misérias desgraças
Já tenho os meus índios os meus
Negros os homossexuais as prostitutas
Carrego já comigo os meus marginais
Meu lado podre da vida de mim
Já sou o meu submundo canto
Tanto quanto Lou Reed o negror da
Sociedade o fel da burguesia o amargo
Da elite não carrego a genialidade de
Andy Warhol sei que não terei os meus
Quinze minutos de fama penso que
Chegarei ao ápice da mediocridade
Ao fundo da ignorância ao máximo
Da incompetência e ao infinito da
Hipocrisia eterna o que é que posso
Fazer se não tenho nem a visão nem o
Ponto de vista a opinião dum visionário
Loquaz sagaz? já nasci cego fui degolado
Pelo meu cordão umbilical nasci mudo
Cortaram a minha língua nasci surdo
Inda furaram meus tímpanos com uma
Acha de lenha em brasa tal fizeram com
O olho do ciclope da Odisseia de Homero
Um morto conhecido pode até emocionar
Alguém porém um morto anônimo um
Morto desconhecido um morto indigente
Solitário abandonado traste triste esquecido
No fundo duma gaveta dum IML não tem
Como nem pode querer emocionar o
Mundo como se fosse um Prêmio Nobel
Como se fosse um ser iluminado llluminati
Consagrado angariado de simpatias
Pelos seres da humanidade sei que nunca
Deixarei de ser amaldiçoado nunca deixarei
De ser um mal assombrado um fantasma
Bonifrate sem salvação a minha única
Ilusão é a tentativa da verdade na ficção a
Tentativa de superar a mentira na sofreguidão
Da poesia oblíqua da poesia ambígua
Tentar um dia um reconhecimento falso
Crítico daquilo que não soube ter sido
Espero chegar um dia à eficiência à
Essência ao classicismo dum cavalo
Andaluz ser útil para alguma coisa
Servir sem ser fútil sem ser servil a
Minha vida terá emoção a minha
Vida terá sentido direção será uma
Vida de satisfação tão cheia de
Satisfeita pronta para levar às outras
Pessoas a experiência da metamorfose
Não a de Franz Kafka
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