Sozinho
Nem minha sombra acompanha-me
Completamente só
Todos voaram de mim
Para o mais longe do além
A embrutecer-me
Pesado
Sem alma
Sem ser
Sem espírito
Totalmente tosco
Um toco
Uma pedra
Têm mais consciência
Um rio leva mais vida
Inda que seja temporário
Absolutamente absorto
Não deixo pegadas
Pedaços de areia que caem
O vento pulveriza
Blocos de torrões de cinzas
Esvoaçam
Mas não são pássaros
Não são aves do paraíso
Não são Fênix
Tornam-se lágrimas de carvões
Os gemidos que vêm do quarto negro
São sussurros dos zumbis escondidos
Nas penumbras todos são inexistentes
Bate-se queixo em pleno calor
Atrás das portas há almas penduradas nos cabides
Seres aprisionados em quadros
Entes encarcerados nos ladrilhos,
Tentações latejam nas paredes
Pesadelos descem dos tetos
Estar sozinho
É estar solitário
Até às raízes dos ossos
É vislumbrar o que naturalmente
Os olhos não enxergam
Minha avó passou ali
Sem um dente na boca a sorrir
Hoje todos têm dentes brancos
Não sabem sorrir
Estar sozinho tem suas vantagens
Ser visitado por aqueles que nos visitavam
Quando éramos crianças
Estar sozinho é ser criança
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