terça-feira, 21 de janeiro de 2020

"Originais", RJ/1980, Não quero nada deste mundo imundo; Publicado: BH, 0210102020.

Não quero nada deste mundo imundo
Não quero nada desta imundície
E não penso fazer nada
E nem em criar nada
E nada vou procurar
Porque nada quero encontrar
O que tiver de me acontecer
Que me aconteça aqui e agora
Pode cair na minha cabeça
Não quero nada e nem almejo nada
Deus dá a coberta de acordo com o frio
E ainda não estou a morrer de fome
E ainda não estou a sentir frio
Graças a Deus
Mas acontece que ainda
Milhões estão a sofrer mais
Mil vezes mais do que eu
Então tira tudo que tenho
E distribua entre esses milhões
Ameniza o sofrimento deles
E faça om que um dia
O frio para eles possa acabar
A fome deles possa acabar
E que sejam felizes igual sou
E só quando penso
Nesses milhões de homens
Mulheres e crianças
É que realmente me sinto infeliz
E não é demagogia não
E não é fingimento não
É a pura verdade
E perco a fé nas coisas
E perco a esperança
E perco eu mesmo
Pois sou o mundo
E sou a humanidade
E se muitos sofrem
Tenho que sofrer também
Pois eles fazem parte de mim
E não espero nada deste mundo imundo
Não espero nada desta imundície
Só a paz e a felicidade e o amor.

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