segunda-feira, 20 de janeiro de 2020

"Originais", RJ/1980, Um cão ladra de vez em quando; Publicado: BH, 0200102020.

Um cão ladra de vez em quando
E um pássaro passa a voar apressado
E um vento fresco e leve
Balança as folhas novas duma árvore
Bem aqui em frente
E o mecânico trabalha na lanternagem
Dum velho automóvel
E os mosquitinhos ficam a querer entrar
Nos meus olhos meios sujos de remelas
E nas minhas narinas imundas
E graças a Deus
Meu dente furado
Ainda não começou a doer
E quando começar a doer de verdade
Não sei como vai ser
E sinto que estou bem
E que algumas das minhas doenças
Mais conhecidas
Não têm me incomodado
Nesses últimos dias e noites de sono
Elas se recolheram
E talvez atacarão mais tarde
E mais para o futuro
Graças a Deus já faz algum tempo
Que não tomo um comprimido
E graças a Deus já faz algum tempo
Que também não tomo uma injeção
E graças a Deus ainda por que já faz
Algum tempo também que não vou ao médico
E já faz algum tempo que não sei
O que é hospital e remédio
E isso me faz sentir bem e tranquilo e alegre e
Muito mais disposto
E parei de fumar e gostaria que um dia
Todo mundo parasse de fumar
E bebo de vez em quando
Uma cerveja ou outra
Para não perder o costume
Só combato o fumo e sou contra o cigarro em geral
Agora quem quiser fumar cigarro ou maconha ou ópio
Que fume e que faça outras coisas mais se quiser
E quem quiser optar pela cocaína e pela heroína
Que opte e faça o que der e vier na cabeça
E na cuca e na ideia também
E desde que não afete a sociedade e a humanidade
E que seja inteiramente responsável pelos seus atos
E assuma todas as consequências que vierem a
Cair sobre ele ou ela
Que fume maconha e tome pico na veia e que use e
Abuse de cocaína e heroína e lsd e todas as drogas
E bolinhas e todos os ácidos e chás e entorpecentes
Desde que não cause nenhum dano ao meio
E se causar algum dano e prejuízo
Que sofra duramente a pena da lei
Liberdade e justiça e liberalismo totais
E libertinagem e libertino até e democracia
E que cada um faça e seja o que bem entender
Anarquia e anarquismo e anarquista e merdista
E bostista e cocoista e fezista e porrista
E vamos nessa enquanto é tempo e
Olha bem e veja bem e escolha bem o que pretendes ser
E no meio deste poema idiota e inútil e imbecil
E de tamanha grandeza
Vou fazer uma pequena dedicatória e homenagem
Dedico este poema a todos aquele que não confiaram em mim
Dedico este poema a todas as pessoas que não acreditaram em mim
Que me humilharam e que abusaram da minha pessoa e ser
Dedico este poemas a todas as prostitutas e a todos os homossexuais e
À todas as mulheres e homens e crianças e seres na face da terra
Dedico este poema a todos os índios e negros e pobres e abandonados
E injustiçados e a todos os famintos e sofredores duma vida cara e mal vivida
Dedico este poema e faço esta pequena homenagem dentro deste poema mortífero
A meu pai e à minha mãe e aos meus irmãos e parentes e a meus amigos e inimigos
E a todas as pessoas que me odiaram e que me odeiam e que vão me odiar
E que gostam de mim e me amam
Dedico este poema aos policiais e aos ladrões
Aos assaltantes e aos terroristas
Dedico este poema ao pessoal que sofre no Nordeste e
À Amazônia e tudo que nela existe
E ao povo trabalhador brasileiro em geral
E aos menores abandonados
Dedico este poema a tudo que existe e que não existe
E a tudo que pude pensar e que não pude pensar
Dedico este poema ao planeta e ao universo inteiro
E aos seres dos outros planetas e universos de outras galáxias
E é isso aí e deixei minha dedicatória e minha homenagem
E espero não ter esquecido nada e nem de ninguém
Espero ter ocupado todas as vagas e todos os espaços
E lembrado e abrangido todos os setores e lógicas
E todas as pessoas e todos os animais e bichos e seres
E agora vou embora e vou desaparecer
E vou por este mundo à fora e quero ver
Os quatro cantos do mundo e do sol e
Norte e Sul e Leste e Oeste e a mulher nua e
Bela é a tela é a vela é a cela é a donzela
 Nua e pelada e jogada na cama e deflorada e
Rasgada a pele e a carne com unhas e dentes e
Beijos e significações diferentes e evidentes e
Seviciada e violentada e cubada e currada e
Não se faz mais mulher como antigamente e
O que é do homem o bicho não come e
A mulher o bicho já comeu e já degustou e
A mulher não é mais do homem e já se libertou e
O homem agora é que é da mulher e
O que é da mulher o bicho não quer e
O bicho não vai comer o homem e
Não come o homem pois o homem não mata a fome e
Abandona o homem que despreza e domina e
Que alucina e tortura e mata e destrói e
E o homem já deu adeus à mulher há muito tempo e
O que não deu adeus já encheu a mulher de tiros e
O que não se conforma com a reversão e com o revertério
Despacha logo a mulher cheia de balas para um cemitério e
É o machismo latino americano e é a honra do macho e
O homem não pode matar o bicho e mata a mulher e
É matar para não ficar na mão e caído no chão
E quando chega o julgamento se faz de ator
Comove o coração das pessoas e incrimina a mulher amada e morta
E a mulher passa de vítima a ré e o homem sai livre e dá no pé
A sociedade é esta que está aí para tu veres
E é por isso que a mulher está a se libertar
Está a se emancipar e a procurar reger o seu próprio
Caminho e o seu próprio destino de mulher livre e feminina
E vivas à mulher e à justiça e à liberdade da mulher lésbica e amante
E a mulher agora aprendeu mais do que séculos atrás
Sabe do que quer e sente e precisa e não se entrega
E não se humilha mais e põe em prática toda a sua inteligência 
E capacidade e chega de ser objeto abstrato e sintético e de plástico
Agora é natural e ser mulher e igual e pau a pau
E meu companheiro e meu senhor e meu rei
E espero ter falado tudo e espero não ter falado nada
Falou muito mas não falou nada e falou pouco mas falou bom e bem
E vou ficar por aqui senão ficas louco
E espero não ter escrito nada de interessante e bem e bom
Que rasgues este papel assim que acabares de lê-lo
Que não engulas os erros que encontrar escritos
E falados e registrados aqui
E meu camarada e amigo e meu amor e paz
E muita tranquilidade e muita serenidade e calma e frieza
E muita paz na alma e no espírito e e na mente e no ser
E muita firmeza e segurança e confiança e otimismo e dinamismo
E garantia e que a vida seja eterna e segura para ti e todos e todas seus e suas
E é isso aí e espero não ter tomado muito tempo
Foram minhas estas palavras e agora não são mais
E podeis me matar e sei que sou mortal e mortífero
E de nada me adiantou puxar o teu saco e colhões
E de nada me valeu o meu puxa saquismo idolatrado
Meu deus e fã e ídolo e magistral espetro do espelho espectral
Teu vermelho não tem mais interesse neste meio tempo
E é chegado o meu fim ruim e me embrulha por favor
Nesta folha morta de papel oleado e sujo e roto e podre e morto
Adeus e até logo e até amanhã e bom-dia e boa tarde e boa noite
E adeus e até nunca mais e não me perdoes e nem me desculpes
E sou um ser e ora bolas que coisa mais chata e sem efeito
E é assim que se chega ao fim.

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