Nasci numa sexta-feira treze
Dum mês de agosto à meia-noite
Do ano mais tenebroso
Que já existiu
E como é normal no nascimento
A criança nascer
Primeiro a cabeça
Nasci ao contrário
Primeiro os pés
E nasci num cemitério
Deitado numa sepultura
E era noite de lobisomens
Noite de bruxas
De vampiros
De mulas sem cabeças
De sacis-pererês
E era noite
De todos os bichos
De todos os fantasmas
De todas as assombrações
Que a imaginação
E o sobrenatural
Podem criar
E nasci numa noite de chuvas
E trovões e raios e relâmpagos
Noite de trevas e de medos
Nasci inseguro e sozinho
E não chorei
Como mandam o bom costume
E o bom figurino
E dei gritos
Gritos lancinantes
Gritos de pavor
E terror muito terror
Na noite na qual nasci
E parece que não nasceu uma criança
E sim um monstro
Um bicho qualquer
Um demônio qualquer
E não o filho duma mulher
Um espírito ruim qualquer
E nasci
E este foi o meu azar
E nasci
Esta foi a minha má sorte
O meu mau agouro.
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