segunda-feira, 25 de abril de 2011

Tomás Antônio Gonzaga, Lira VII; BH, 0250402011.

Vou retratar a Marília,
A Marília, meus amôres;
Porém como? se eu não vejo
Quem me empreste as finas côres:
Dar-mas a terra não pode;
Não, que a sua côr mimosa
Vence o lírio, vence a rosa,
O jasmim, e as outras flôres.
Ah! socorre, Amor, socorre
Ao mais grato empenho meu!
Voa sôbre os Astros, voa,
Traz-me as tintas do Céu.

Mas não se esmoreça logo;
Busquemos um pouco mais;
Nos mares talvez se encontrem
Côres, que sejam iguais.
Porém não, que em paralelo
Da minha Ninfa adorada
Pérolas não valem nada,
E nada valem corais.
Ah! socorre, Amor, socorre
Ao mais grato empenho meu!
Voa sôbre os Astros, voa,
Traz-me as tintas do Céu.

Só no Céu achar-se podem
Tais belezas como aquelas,
Que Marília tem nos olhos,
E que tem nas faces belas.
Mas às faces graciosas,
Aos negros olhos, que matam,
Não imitam, não retratam
Nem Auroras, nem Estrêlas.
Ah! socorre, Amor, socorre
Ao mais grato empenho meu!
Voa sôbre os Astros, voa,
Traz-me as tintas do Céu.

Entremos, Amor, entremos,
Entremos na mesma Esfera,
Venha Palas, venha Juno,
Venha a Deusa de Citera.
Porém não, que se Marília
No certame antigo entrasse,
Bem que a Páris não peitasse,
A tôdas as três vencera.
Vai-te, Amor, em vão socorres
Ao mais grato empenho meu:
Para forma-lhe o retrato
Não bastam tintas do Céu.

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