terça-feira, 19 de abril de 2011

Tomás Antônio Gonzaga, Lira VI; BH, 0190402011.

Acasos são êstes
Os sítios formosos,
Aonde passava
Os anos gostosos?
São êstes os prados,
Aonde brincava,
Enquanto pastava
O gordo rebaho,
Que Alceu me deixou?
São êstes os sítios?
São êstes; mas eu
O mesmo não sou.
Marília, tu chamas?
Espera, que eu vou.

Daquele penhasco
Um rio caía;
Ao som do sussurro
Que vêzes dormia!
Agora não cobrem
Espumas nevadas
As pedras quebradas:
Parece que o rio
O curso voltou.
São êstes os sítios?
São êstes; mas eu
O mesmo não sou.
Marília, tu chamas?
Espera que eu vou.

Meus versos alegre
Aqui repetia:
O eco as palavras
Três vêzes dizia.
Se chamo por êle,
Já não me responde;
Parece se esconde,
Cansado de dar-me
Os ais, que lhes dou.
São êstes os sítios?
São êstes; mas eu
O mesmo não sou.
Marília, tu chamas?
Espera, que eu vou.

Aqui um regato
Corria sereno
Por margens cobertas
De flôres, e feno:
À esquerda se erguia
Um bosque fechado,
E o tempo apressado,
Que nada respeita,
Já tudo mudou.
São êstes os sítios?
São êstes: mas eu
O mesmo não sou.
Marília, tu chamas?
Espera, que eu vou.

Mas como discorro?
Acaso podia
Já tudo mudar-se
No espaço de um dia?
Existem as fontes,
E os freixos copados;
Dão flôres os prados,
E corre a cascata,
Que nunca secou.
São êsts os sítios?
São êstes; mas eu
O mesmo não sou.
Marília, tu chamas?
Espera, que eu vou.

Minha alma, que tinha
Liberta a vontade,
Agora já sente
Amor, e saudade.
Os sítios formosos,
Que já me agradaram,
Ah! não se mudaram:
Mudaram os olhos,
De triste que estou.
São êstes os sítios?
São êstes; mas eu
O mesmo não sou.
Marília, tu chamas?
Espera, que eu vou.

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