quarta-feira, 12 de junho de 2013

Que não possui o corpo caloso como a maioria dos mortais; BH, 0110402000; Publicado: BH, 0120602013.

Que não possui o corpo caloso como a maioria dos mortais,
Não possui um cérebro, e sim na alma um Cérbero,
E sim no espírito um Caronte, e na face um rio
De lágrimas de lavas infernais, que impedem a felicidade; e
Que mantêm a cabeça numa nuvem ardente,
De cuja abertura principal gera a corrente de lava;
O cone de cinzas vulcânicas, rochas incandescentes
Expelidas de câmara de magma do vulcão mental; e
Que extrai de mim toda a minha ignorância,
Truculência, e obtusidade, toda a minha opacidade,
Burrice, e preguiça; hipocrisia, e falsidade,
Mentira, e ilusão: e como não pode deixar de ser,
Medo, e covardia, e tudo o mais que
Atormenta meu ser fraco, e faz de mim uma só
Hemorragia; um só ciclo menstrual infinito;
Uma só diarreia crônica, e incurável, que leva
Ao acesso, e ânsia de vômito sórdido, e sujo, e fedido;
E por todos os orifícios, e poros, vão fluir de mim
As minhas imundícies interior, e particulares; e
Não são os excrementos, os materiais fisiológicos,
Os coliformes fecais, e outros ais mais: e são
Sim todos os meus ais de todas as minhas dores;
Sim, tudo isso me fez renunciar, me fez abrir mão
Em nome duma cultura, em nome duma
Criação, ao ser eu a criatura, ao ser eu o mais
Prejudicado, e mais deixado de lado por todos,
Por não ter por fora uma imagem ideal, com
Os conceitos veiculados pelos meios de informação;
Sou totalmente o reverso da medalha, o outro
Lado do rio, a outra margem do caminho,
A outra via que não levará a lugar nenhum;
E que fará a flacidez do esfincter ser a agonia,
A angústia, e o antagonismo que impedem
Toda a beleza chegar ao seio do ser humano;
Fazem a poesia ficar esquecida, perder o sentido,
A razão, e a direção, fazem a poesia apodrecer;
Morrer solitária, e sem o poema, morrer sem
A ode, a elegia, e a alegria: é triste de se ver,
É triste de se falar, de se cortejar, ou almejar;
Vi um homem recusar um milhão de dinheiros,
Para não vender sua obra, para não se violentar,
E não se prostituir; e vejo tantos homens aí,
Será que são homens? vejo tantos homens aí, a se vender,
E a se entregar, e a receber mais do que quanto
Vale um homem vendido, que na verdade não vale;
Não vale nada na verdade: e poucos são homens,
Muitos são fanfarrões, canalhas, surrealistas superficiais;
Muitos são violentos, covardes rubiões, e injustos, e
Poucos, muito poucos mesmos, em realidade são homens
É preciso ser muito mais do que masculino, para
Ser chamado de homem, receber a alcunha de homem;
É preciso ser muito mais do que ser um ser, não
Basta só existir, possuir, ter, e consumir: é preciso
Consumir-se, extinguir-se, si renunciar-se,
E abrir mão de ser a si próprio, para ser só homem,
Inchar o bolo também, inchar completamente;
A árvore cresce só com a água, e a terra,
E os anabolizantes, as bombas de asteroides podem
Nos fazer grandes, e vistosos e eu pergunto, e aí?
Será que é isso que é ser homem?
Ser homem é só ser isso? é isso só?
Ou é preciso ser mais do que ser? não sei,
Não sou, e, o primeiro a correr da raia,
Sou eu mesmo, e é tudo que sei fazer;
Acrediteis em mim, ou me deixeis sem
Acreditar, me deixeis sem, só, e sozinho;
Saberei me encontrar um dia ainda,
Só que não espero, e não pretendo,
Preciso até, e necessito também; mas,
Deixeis-me de qualquer maneira, e por favor,
Deixeis-me simplesmente, e não cobreis, não
Cobreis nada de mim, não tenho eu
Obrigações de pagar, a não ser a verdade,
A liberdade, e o pão nosso de cada dia; e
Propagar o fim da fome, da miséria,
E da desgraça; propagar o fim da pobreza,
A pobreza em si, e a pobreza de ser homem;
E agora, com os últimos vestígios de raios de sol,
Nas sombras vespertinas das nuvens, por cima das
Montanhas, revivo a poesia no chegar da noite;
Reclamo a poesia das estrelas, dos astros do firmamento;
Ressuscito a alegria no meu coração, e volto
À carga do que eu queria, do que eu quero,
E desvirtuei dos meus caminhos, e me afastei
Dos meus atalhos que me deixaram perdido aqui.(2)

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