terça-feira, 4 de junho de 2013

Sinto que não vou parir nada hoje; BH, 0130102000; Publicado: BH, 040602013.

Sinto que não vou parir nada hoje,
Não sei se é devido a ideia não estar grávida,
A inspiração não estar fecunda e o útero mental
Não estar sem o feto completamente formado;
O ideal não germinou e falhou a criatividade
E a criatura não vingou, ao morrer antes de nascer;
E por não nascer, não tem definição de beat, ou
De concreta, moderna, ou visual, ou de colagem;
É só um texto que depois pode ser lançado no esgoto,
Na lata de lixo, ou na sarjeta, que não vai fazer diferença;
Não é recheado de carne e nem de plástico,
Não é enxertado de silicone e nem moldado
Pelo Dr Ivo Pitanguy e nem sofreu lipoaspiração;
Esteticamente não preenche a necessidade
De quem precisa encher os olhos de ficção,
Daquilo que os olhos vêem e na verdade não enxergam;
As mãos tocam mas se sentem vazias e frias,
Não existe a colorização humana das mulheres
Naturais e normais, com suas celulites e varizes,
E sem dietas e sem academias e sem músculos;
As mulheres mulheres e com sentimentos iguais,
Que sofrem por seus homens e maridos e filhos;
Que sentem a dor e choram e sabem o papel
A desenvolver na composição da sociedade universal;
A poesia que desenvolvo, poderia ser assim,
Feito essas mulheres de verdade, não de festim;
O poema que deveria ter sido parido,
Poderia levar o suor da luz do parto;
Não deveria ser escondido no quarto
E sim estar na natureza e na biodiversidade,
A enfrentar toda a dificuldade e processo,
Que é gerar e fazer com que seja aceito,
Tal um filho pródigo que volta à casa
E aos braços do pai, depois de viver entre os porcos;
Nas reflexões deste fragmento que deixo sangrar,
Hemorragia de lauda desestruturada e sem flanco,
Que no costume demoro a aceitar e a acreditar,
A ser o primeiro a negar a paternidade,
A maternidade e a adoção por receio
De cair na ridicularizada e na mediocridade;
E no suicídio de haraquiri intestinal, a
Sonhar ser o Colosso de Rodes da antiguidade, a
Estátua da Liberdade, ou as pirâmides do Egito;
O monte Fuji e o trem bala que corre sobre os trilhos,
Entre cidades japonesas, na era da modernidade;
Hoje quem fala assim: faço poesia,
É antes de mais nada um troglodita esquecido;
Um fóssil da cultura que ninguém mais,
Ousa cultuar nos dias atuais, a não ser os
Terroristas e teimosos que com extrema vontade,
A enfrentar baixarias e gozações, têm a coragem,
De expor em livrarias, um livro de poesias, de poemas;
Vou bater com a minha cabeça nas pedras do caminho,
Bater com os meus olhos nas pontas dos meus dedos,
Abrir com os meus dentes valas nas terras inóspitas,
E virar farelo igual aos judeus pelos nazistas,
Nos campos de concentração e extermínio;
E os farelos resultados da trituração por máquinas,
Depois de terem sidos mortos e os corpos queimados,
Misturados com a terra para não serem
Nem identificados e nem lembrados, como restos
De seres humanos, esquecidos, sempre
E para sempre, longínquos e distantes;
Quero me sentir e me colocar no lugar
Dum desses judeus, duma dessas crianças,
Ou duma dessas mulheres, que a violência
Do nazismo dizimou sem motivo algum;
Por isso que não posso acreditar que,
A minha poesia deve existir e permanecer;
Por isso que a minha covardia não
Deixa que um poema expelido sofregamente,
Angarie louros e medalhas como se fosse
A aura da felicidade e da competência;
Quero sobre os meus ombros os amargos e as mágoas,
Quero o sal grosso esfregado nas minhas feridas,
O álcool e o iodo nas minhas frieiras;
Ser amarrado à cauda dum cavalo e
Puxado sobre as pedras das estradas;
Amarrado à boca dum canhão preste
A ser disparado e ter o corpo despedaçado;
Não posso alegrar e nem causar alegria,
Falar em esperança e ter esperança,
Quando começo a divagar sobre a vida;
Sem razão e sem motivo justificativo,
Não posso ser feliz e nem causar a felicidade,
Não posso existir e nem querer a existência;
Só se me derem todas as almas,
Todos os espíritos e fantasmas que,
No passado sofreram e morreram na violência,
Na dor e no sofrimento e no torpor;
Deem-me todas essas mentes calcinadas e loucas,
Pela loucura e maldade que as exterminaram;
Quero possuir todas essas legiões de sofredores,
Quero todos os pecadores dentro de mim,
Como se minha barriga abrangesse,
Todos esses malformados fetos para abortos;
Por favor não zombeis e não riais de mim,
Ajudeis-me a não sentir este carma,
Este nirvana que me deixam em frenesi,
Este prana que me profana e me prostra;
Que me faz ruir de cima do meu ser medieval,
Que me faz ser levado pela força do vendaval.(1)

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