sexta-feira, 1 de abril de 2011

Tomás Antônio Gonzaga, Lira III; BH, 01º0402011.

De amar, minha Marília, a formosura
Não se podem livrar humanos peitos,
Adoram os Heróis; e os mesmos brutos
Aos grilhões de Cupido estão sujeitos.
Quem, Marília, despreza uma beleza,
           A luz da razão precisa:
           E se tem discurso, pisa
A Lei, que lhe ditou a Natureza.

Cupido entrou no Céu. O grande Jove
Uma vez se mudou em chuva de ouro;
Outras vêzes tomou as várias formas
De General de Tebas, velha, e touro.
O própio Deus da Guerra desumano
          Não viveu de amor ileso;
          Quis a Vênus, e foi prêso
Na rêde que lhe armou o Deus Vulcano.

Mas sendo amor igual para os viventes,
Tem mais desculpa, ou menos esta chama:
Amar formosos rostos acredita,
Amar os feios de algum modo infama.
Quem lê que Jove amou, não lê nem topa,
          Que êle amou vulgar donzela:
          Lê que amou a Dânae bela,
Encontra que roubou a linda Europa.

Se amar uma beleza se desculpa
Em quem ao própio Céu, e terra move:
Qual é a minha glória, pois igualo,
Ou excedo no amor ao mesmo Jove?
Amou o Pai dos Deuses Soberano
           Um semblante peregrino:
           Eu adoro o teu divino,
O teu divino rosto e sou humano.

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