segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Paul Claudel, A santa face; BH, 0230102012.

Certa imagem não poderias apagar de teu coração.
E esta imagem é precisamente aquela gravada no pano de Verônica.
É uma face fina e longa, contornando-lhe o queixo três tufos de barba.
Sua expressão é tão severa que intimida, e tão santa
Que o velho pecado, em nós organizado,
Estremece em sua raiz original, e a dor que ela exprime é tão profunda
Que, surpresos, ficamos parecendo com os filhos que, sem
Compreender, vêem as lágrimas do pai: ele está chorando!
Em vão, bem que desejarias, ó Ivors, desfraldar diante desses olhos
A glória e o esplendor do mundo.
Esses olhos que levantando-se, criaram, num relance, o Universo.
Estão baixos agora e deles descem lágrimas severas;
Sua fronte está suando gotas de sangue.
Mas, considera, ó meu filho, a boca de teu Deus, a boca , ó meu filho, do Verbo.
Que amargor está sentindo, que palavra visceralmente inefável está saboreando.
Pois estes lábios, no canto direito, se entreabrem num sorriso atroz.
Como chora com todo o seu ser, deixando a saliva escapar, igual a uma criança!
Pão não haverá para nós, ó meu filho, enquanto existir esta dor a consolar.
Eis a dor do filho do Homem que desejou provar e assumir o nosso crime.
Eis a dor do Filho de Deus.
Não poder apresentar ao Pai o homem todo no mistério da Ostensão.

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