quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Falta de dinheiro, Rio de Janeiro, 1980; Publicado: BH, 0260102012.

Falta de dinheiro,
Preciso arranjar dinheiro,
Tenho que dar um jeito,
E arranjar algum dinheiro,
E me virar de qualquer maneira;
Entrar em ação,
Dar uma volta no quarteirão,
Não posso ficar aqui,
Plantado no mesmo lugar;
Tenho que dar um jeito,
Arrumar um feito,
Dar um tombo,
No jeito desta vida;
Não posso continuar,
Tão duro assim,
Sem dinheiro e sem nada,
Sem trabalhar e sem estudar;
Preciso abrir os olhos,
Não pode ser possível,
Não pode ser verdade,
Que de repente vou morrer,
Sem um centavo no bolso;
Cair na calçada,
Ir para o Instituto Médico Legal,
Ficar alguns dias no gavetão,
A esperar reconhecimento
E solicitação do corpo,
Que não aparecem
E então vou ser enterrado como indigente,
Ou ficar no gelo, ou no formol,
Para servir de pesquisa e estudo;
Creio que meu cadáver,
De tão podre que se encontra,
Não servirá para pesquisas
E nem servirá para estudos;
A deixar de lado este velho corpo,
Sem utilidade e sem assunto,
O negócio mesmo,
É arranjar dinheiro;
Se aparecesse alguém,
A querer me comprar,
E me venderia Judas,
Por qualquer dinheiro;
Não posso é continuar,
Nesta pitimba assim;
Tenho que revolver a cabeça,
Sair deste estado vago,
Tentar preencher o lugar,
Que me cabe no espaço;
Não posso é continuar,
A padecer sem um tostão no bolso;
E antes de mais nada,
E antes de tudo,
Tenho que me arranjar,
Preciso me arrumar e
Algum dinheiro emprestado,
Ou roubado,
Para poder sobreviver;
Não posso é sofrer,
Não posso é morrer,
Com esta falta de dinheiro.

Nenhum comentário:

Postar um comentário