O bom de quem escreve
É que só para quando
Morre o mal de quem
Escreve é que ninguém
Ler o que escreve quem
Escreve não é como
Qualquer outro que diz
Hoje me aposentei o que
Escreve não pode dizer
Que pendurou as chuteiras
Que foi o último ato a última
Partida a última jogada ou
O último dia quem escreve
Não quer parar nem depois
De morto mesmo que não
Encontre leitor mesmo que
O que escreve não seduza ledor
Ou não cause alguma simpatia;
Para escriba não interessa
Se vai morrer ou muito
Menos viver quer é
Escrever não quer gerar
Cifras não quer saber de
Trabalhar não quer
Lucros nem causar lucros
A outrem quer é a escrita
Mesmo que cause danos a si
Próprio termine seus dias
Como mendigo ou como
Um eremita andrajoso numa
Gruta sem conforto sem água
Ou pão que tenha de se
Alimentar de raízes de
Besouros gafanhotos frutos
Mel silvestres mesmo que
Tenha que comer esperança
Pois o que escreve é assim
Não vive no meio dos certos
Sim no meio dos tortos
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