sábado, 23 de julho de 2011

Não acredites em nada ; BH, 0100701999; Publicado: BH, 0230702011.

Não acredites em nada
Do que escrevo;
Não ouças nada,
Do que digo;
Se me desculpar,
A dizer que sou poeta,
Não te deixes enganar;
Nunca vou-me alisboetar,
Tornar-me um lisboeta,
Na fala e nos atos e nos costumes;
Nunca serei um Pessoa,
Um Eça de Queirós,
Um Camões,
Nem na reencarnação;
Sou um alistável,
Na minha aliteração,
Na repetição dos meus erros,
Do meu mesmo fonema,
Ou dos mesmos vocábulos,
Nos meus enunciados;
Não passes as vistas por eles:
Podes ficar cego,
Pela ignorância e brutalidade,
Que vão estar à tua frente;
E torno à aliterar,
Não acredites em nada,
Do que escrevo;
Não serve para nada,
Nem para o aliviamento da dor;
O alívio do ódio,
O fim do rancor;
Pois só vou à igreja,
Nos dias alitúrgicos,
Que não têm ofícios próprios;
E não encontro meio de aliviar,
Diminuir o peso da minha consciência,
As aflições que me prostram,
Tornar mais leve o meu fado,
Renovado o meu fato,
E suavizar a minha angústia,
A minha ansiedade extrema.

Nenhum comentário:

Postar um comentário