quarta-feira, 27 de julho de 2011

Fernando Pessoa, Não sei quem sou; BH, 0270702011.


Não sei quem sou, que alma tenho.
Quando falo com sinceridade não sei com que sinceridade falo.
Sou variamente outro do que um eu que não sei se existe (se é esses outros)...
Sinto crenças que não tenho.
Enlevam-me ânsias que repudio.
A minha perpétua atenção sobre mim perpetuamente me aponta
Traições de alma a um carácter que talvez eu não tenha,
Nem ela julga que eu tenho.
Sinto-me múltiplo.
Sou como um quarto com inúmeros espelhos fantásticos
Que torcem para reflexões falsas
Uma única anterior realidade que não está em nenhuma e está em todas.
Como o panteísta se sente árvore (?) e até a flor,
Eu sinto-me vários seres.
Sinto-me viver vidas alheias, em mim, incompletamente,
Como se o meu ser participasse de todos os homens,
Incompletamente de cada (?),
Por uma suma de não-eus sintetizados num eu postiço."

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