terça-feira, 14 de agosto de 2012

Nietzsche, O que é comum, afinal de contas? BH, 0140802012.

 - As palavras são sinais orais para designar conceitos;
Mas os conceitos são sinais imaginativos, correspondendo
Mais ou menos a sensações que retornam muitas vezes e ao
Mesmo tempo, a grupos de sensações.
Não basta, para se compreender mutuamente, usar as mesmas palavras.
É preciso também usar mesmas palavras para o mesmo gênero 
De acontecimentos interiores, é preciso enfim que as experiências do 
Indivíduo sejam comuns com aquelas de outros indivíduos.
É por isso que homens de um mesmo povo se compreendem melhor
Entre eles que as pessoas de diferentes povos, mesmo quando se 
Servem da mesma língua; mais ainda, quando homens colocados em
Mesmas condições (de clima, de solo, de perigos, de necessidades, 
De trabalho) viveram muito tempo juntos, forma-se alguma coisa 
"Que se compreende", isto é, um povo.
Em todas as almas, um número igual de fatos que se repetem
Muitas vezes leva a melhor sobre fatos que se repetem raramente: a
Seu respeito, as pessoas se entendem rapidamente, sempre mais rápido
 - A história da linguagem é a história de um processo de abreviação; - 
Esse entendimento rápido faz com que as pessoas se unam mais estreitamente.
Quanto maior for o perigo tanto maior é a necessidade de se entender rápida
E facilmente sobre aquilo do que se tem necessidade; não se expor a um mal
Entendido no perigo, essa é a condição indispensável para os homens em 
Suas relações recíprocas.
Percebe-se isso também em toda espécie de amizade e de amor: nenhum
Sentimento dessa ordem dura se, mesmo usando as mesmas palavras, um dos 
Dois sente, pensa, pressente, prova, deseja, teme de forma diferente que o outro.
(O temor do "eterno mal-entendido": esse é o gênio benévolo que impede tantas
Vezes as pessoas de sexos diferentes de contrair uniões precipitadas que os 
Sentidos e o coração aconselham - esse não é de modo algum um "gênio da 
Espécie" qualquer à Schopenhauer!)
Saber quais são, numa alma, ou grupos de sensações que despertam mais
Rapidamente, que tomam a palavra, dão ordens, é nisso que se decide a 
Hierarquia completa de seu valor, é isso, em última instância, que se fixa
Sua tabela de valores.
As avaliações de um homem revelam alguma coisa da estrutura de sua alma,
Revelam onde essa vê suas condições de existência e seus verdadeiros perigos.
Se for admitido, portanto, que desde sempre o perigo só se aproximou dos 
Homens que podiam designar, por meio de sinais semelhantes, necessidades
Semelhantes, acontecimentos semelhantes, resulta no conjunto que a facilidade
De comunicar no perigo, isto é, o fato de não viver senão dos acontecimentos
Médios e comuns, deve ter sido a força mais poderosa de todas aquelas que 
Dominaram o homem até agora.
Os homens que mais se assemelham, que são mais comuns, estiveram e estarão
Sempre em melhores condições; a elite, os homens refinados e raros, mais 
Difíceis de serem compreendidos, correm o risco de ficar sozinhos e por causa
De seu isolamento, sucumbem aos perigos e raramente se reproduzem.
É preciso invocar prodigiosas forças adversas para entravar esse natural,
Demasiado natural, progressus in simile, o desenvolvimento do homem, 
Medíocre, do rebanho - o comum!

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