terça-feira, 28 de agosto de 2012

Manuel Bandeira, Boda Espiritual; BH, 0280802012.

Tu não estás comigo em momentos escassos:
No pensamento meu, amor, tu vives nua
 - Toda nua, pudica e bela, nos meus braços.

O teu ombro no meu, ávido, se insinua.
Pende a tua cabeça.
Eu acaricio-a...
Afago-a...
Ah, como a minha mão treme...
Como ela é tua...

Põe no teu rosto o gozo uma expressão de mágoa.
O teu corpo crispado alucina.
De escorço
O vejo estremecer como uma sombra n'água.

Gemes quase a chorar.
Suplicas com esforço.
E para amortecer teu ardente desejo
Estendo longamente a mão pelo teu dorso...

Tua boca sem voz implora em um arquejo.
Eu te estreito cada vez mais, e espio absorto
A maravilha astral dessa nudez sem pejo...

E te amo como se ama um passarinho morto.

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