Ainda sinto o cheiro das flores o perfume
A fragrância da defunta no caixão
Nunca sei o que digo quando abro
A boca sempre corro perigo as palavras
São me estranhas não as escrevo não
As pronuncio sufocam o meu viver
Entristeço assim mesmo por não
Descrever a tristeza finjo alegria
Viver existir penso que seja então
Necessário que alguém seja como
Sou a natureza depende dos meus
Adubos os restos as sobras as esmolas
Não existiriam sem mim o que seriam
Das sombras das ruas de canto das valetas
Vielas se não fosse o que sou para justificá-las?
Quando me procuro de verdade só me
Encontro nas mentiras sem pundonor
As propago com todo respaldo que encontro
Nos ouvidos nos olhares nas bocas as faces
São as mesmas pré-históricas medievais
Faces de políticos cleptomaníacos a
Quem temos de tratar por senhores
Doutores excelências a vela agora
Apagou o toco de vela deu a derradeira
Fumegada espalhou pelo ambiente
Um réstio de cera queimada uma
Réstia de vento avivou as vestes da
Defunta todos entreolharam-se tudo
Serenou novamente a defunta não
Era cinética reinou a calma na
Noite na capela do cemitério não
Havia choro esqueceram de contratar
Carpideiras sem licitação superfaturaram
O enterro desviaram as verbas do poder
Não abrem mão donde apertam
O pescoço da nação
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