sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Noturno Nº 10; BH, 0100702011; Publicado: BH, 0100802012.

Ainda sinto o cheiro das flores, o perfume,
A fragrância da defunta no caixão;
Nunca sei o que digo quando abro
A boca, sempre corro perigo; as palavras
São me estranhas, não as escrevo, não
As pronuncio e sufocam o meu viver;
Entristeço assim mesmo, por não 
Descrever a tristeza, finjo alegria,
Viver e existir; penso que seja, então,
Necessário, que alguém seja como
Sou; a natureza depende dos meus
Adubos e os restos, as sobras, as esmolas,
Não existiriam sem mim; o que seriam
Das sombras, das ruas de canto, das valetas,
Vielas, se não fosse eu para justificá-las?
Quando me procuro de verdade, só me 
Encontro nas mentiras e sem pundonor
As propago, com todo respaldo que encontro
Nos ouvidos, nos olhares, nas bocas; as faces 
São as mesmas: pré-históricas, medievais;
Faces de políticos cleptomaníacos a 
Quem temos de tratar por senhores,
Doutores e excelências; a vela agora
Apagou, o toco de vela deu a derradeira
Fumegada, espalhou pelo ambiente
Um réstio de cera queimada e uma 
Réstia de vento avivou as vestes da 
Defunta; todos entreolharam-se e tudo
Serenou novamente; a defunta não
Era cinética, reinou a calma na 
Noite na capela do cemitério; não
Havia choro, esqueceram de contratar
Carpideiras sem licitação e superfaturaram
O enterro, desviaram as verbas, e do poder
Não abrem mão, donde apertam 
O pescoço da nação.

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