sábado, 2 de abril de 2011

Charles Baudelaire, O Sino Rachado; BH, 020402011.

Mas quanto é doce e amargo, em noites invernosas,
Ao pé do fogo ardente, ouvir recordações,
Que de muito distante acorrem vagarosas,
Quando canta na bruma a voz dos carrilhões.

Forte sino feliz, de sonora garganta,
Que, apesar da velhice, alerta e bem-disposto,
O seu grito de fé, com firmeza levanta,
Como um velho soldado, atento ao seu posto!

Partida está minha alma e, quando em seu tormento
Deseja, em noite fria, espalhar seu lamento,
Acontece, por vez, que seu clamor sentido

Mais parece o estertor de alguém que está ferido,
Entre mortos deixado e em sangue se esvaindo,
Agonizando, inerte, em sofrimento infindo.

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