quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Caminhei por estradas; RJ, 0220401997; Publicado: BH, 0501002011.

Caminhei por estradas e
Por caminhos tortuosos;
Comi poeira com arroz,
Comi feijão com farinha e
Bebi água de poço;
Curei-me com o mato e
Bebi muita cachaça;
Fumei cigarro de palha,
Masquei muito fumo,
Aprendi a passar o tempo;
Deixei todo o meu suor,
Com o capataz e
Enriqueci o dono da terra;
Trabalhava feito escravo
E sempre ficava a dever;
Perdi muitos filhos,
Ainda eram crianças,
Morreram de barriga grande,
Mas vazias de comida,
Cheias de bichas,
Que os deixavam secos,
Iguais aos gravetos;
Nunca tive terra,
Descendente de sem terra,
Sem terra,
Gerador de sem terra,
Numa terra,
Onde a simples ocupação,
Na tentativa de ganhar o pão,
Acaba debaixo da terra;
Com o pagamento duma vida,
O derramamento duma
Dádiva de sangue,
Que não vale muita coisa,
Não vale nem,
Sete palmos de terra.

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