domingo, 9 de setembro de 2012

Noturno Nº 45; BH, 0210702011; Publicado: BH, 090902012.

Nada dói em mim porque sou nada
Quem é nada nada sente no
Entanto ergo os olhos para os montes
Uivo a clamar misericórdia salvação
Sem merecer nada dói em mim
Um dente sequer uma dor de barriga
De fome ou doutra coisa o que tu
És? perguntais-me não sou nada
Nem o nada sou para que ser
Alguma coisa numa civilização anônima?
O que tens tu? nada então para que
Vives a pedir remédios? pareces o ciclope
Com teus gritos do coração das montanhas
Teus urros das entranhas da terra quem
Feriste-te? ninguém fiques então
Quieto deixe-nos dormir tu aí
Também com teus nadas sossegues por
Enquanto amanhã terás uma esmola um
Sol um céu um chão pisarás com
Teus pés as ruas das cidades seguirás
Pelas estradas nas encostas dos morros
Tua sombra será sempre maior
Do que tu que não crescerás como
Uma flor num caule uma planta
Num pátio um vaso num parapeito
Um semblante numa plataforma
Muitos serão cadáveres desovados nas
Madrugadas o teu talvez esteja no
Meio deles como um intruso a
Incomodar com a tua insolência
Nada dói em ti quem diria quisesse
Eu que me sentisse com tudo
A doer em mim poder clamar em
Frente ao espelho daquela parede existo
Sinto a dor que a minha mãe sentiu
Enfim existo a vida é isto eu

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