quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Noturno N°35; BH, 0200702011; Publicado: BH, 050902012.

É a minha sobrevivência que está
Em jogo; corro o risco de morrer e
Ser uma morte em vão, a morte
Que me acompanha desde que nasci;
E funga em meu cangote e fuça
Minha vida, a espera  dum descuido,
Duma hora que seja assim a última e
Que tenha que ir embora, apesar
De nada ter feito para merecer esta
Vida; mas, toda morte sabe que é merecida,
Por isso que vem, intrusa, saliente,
Adentra a vida da gente, e a leva,
A nos deixar aqui, só arcabouços, restos,
Sobras do que éramos; e o triste é que
É uma bobagem o que é feito aqui, e a
Vida não vale nada; cada um com um
Ego maior, um olho imenso, uma barriga
Com um estômago infinito, uma sede
De quem morre em deserto; cada um
Com um id que nunca forma um nós;
Uma vontade de ânimo de potência
De ter, de possuir, de cobiçar, de invejar
E não haver mais lugar para os nossos
Entulhos; brilhou, reluziu, piscou e
Ofuscou o vizinho, satisfação total,
Desejo garantido do que é mais moderno,
Avançado e veloz; no futuro nasceremos
Sem sentidos; não haverá mais necessidade
De sentidos, de sentimentos; no futuro,
Se houver futuro, presente ou passado, morreremos
E ressuscitaremos todos os dias; sem lembranças,
Recordações, memórias; sem histórias, verbos,
Baluartes; e a morte, aonde andará? cada um que
A morte levar, será mais pobre do que o outro.

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