sexta-feira, 3 de julho de 2020

Cemitério esquecido; Publicado: BH, 030702020.

Escovei os dentes da boca da noite
Passei batom na boca do estômago
Limpei com pano de prato a boca do túnel
Fechei a minha boca aberta para a vida e para a morte
Morte divina que não veio a sorrir no coração da lágrima
Dum olho cego e outro olho de aço
Que penetrou fundo na carne da alma
A rasgar pedaços do tamanho da desgraça
Da boca imunda do mundo imundo
Com hálito podre de dentes cariados
E carniceiro de corpos pendentes
De seres pendentes de amores carentes
De verdadeiro amor
Morcegos bailam na festa macabra
Dia após dia a vida se acaba
Ao ser mastigada pela boca do ódio
Que desce pela garganta dilacerada
E rasgada pela fome atômica
Do estômago vazio
Pela cratera aberta da boca nuclear
No coração infame que bombeia cuspe e pus
E miséria e grito pela noite lancinante e eterna
Na boca do mais profundo buraco dum cemitério esquecido.

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