quarta-feira, 8 de julho de 2020

"Originais", RJ/1980, E era a pobreza de espírito; Publicado: BH, 080702020.

E era a pobreza de espírito
E que para o conhecer
E que para ficar a saber o que era
Depois que tomava todas
Dizia que era um vômito podre
E um ovo choco
E um feto rejeitado
E que era um santo excomungado
Um diabo a correr da cruz
E um capeta a tentar Jesus
Ou um demônio que vaga sem luz
E uma mosca num copo de pus
E um cadáver a passar
Em máquina de moer carne
Ou a perdição em forma de gente
E se dizia a podridão
Deste inferno corrente
A ignorância da mente doente
E o catarro na calçada
A pitarra que gruda no nariz
E a cera do ouvido
E o sebo da pele
E o esperma sem óvulo
E a cárie do dente
A dor de barriga
Da causa da caganeira
Dum piriri
E um arroto coalhado
O fedor do cachorro molhado
O gato sem vida
O rato pestilento
E uma barata nojenta
Que corres e gritas quando a vês
É isso dum podre coitado
Dum louco sem hospício
Dum doente sem hospital
E que agora que era conhecido
Queria ver o que vais fazer
Pois não podia fazer nada
Era um ser sem ser.

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