segunda-feira, 30 de maio de 2011

Carlos Drummond de Andrade, Passeiam as belas; BH, 0300502011.

Passeiam as belas, à tarde, na Avenida
Que não é avenida, é longo caminho branco
Onde os vestidos cor de rosa vão deixando,
Não, não deixam sombra alguma, em mim é que eles deixam.

Passeiam, à tarde, as belas na Avenida.
São tão belas como as vejo, ou mais ainda?
Só de passar, só de lembrar que passam, a beleza
Nelas se crava eternamente, adaga de ouro.

Passeiam na Avenida, à tarde, as belas,
As sempre belas no futuro mais remoto.
Pisam com sola fina e saltos altos
De seus sapatos de cetim o tempo e o sonho.

À tarde, na Avenida, passeiam as belas,
Seios cuidadosamente ocultos mas arfantes,
Pernas recatadas, mas sabe Deus as linhas perturbadoras
Que criam ritmos, e o caminho branco é todo ritmo.

Na Avenida, passeiam as belas, à tarde,
No alto da cidade que entre árvores se apresta
Para o sono das oito da noite e não sabe que as belas
Deixam insone, a noite inteira, uma criança deslumbrada.

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