O
milagre
Prelúdio
Fiquei
triste quando soube o significado dessa
palavra
a primeira que o ventou trouxe à seara
perdida
em alfarrábios
labirintos
inextricáveis
são
tantos os símbolos
fazem
nascer o sol toda manhã no Arpoador
quem me
falou da palavra deus
viajou
por paragens paralelas perdidas
lendas
vindas d’África
foi
assim que talvez tenha vindo
quem
chamou de canto o primeiro som da cotovia
quem o
diferenciou de outro canto
este é
um canário
qual
foi a primeira palavra
que o
generoso depositário das coisas
de
todas as coisas
dos
sonhos da manhãs de outono
as mais
belas
das
noites de escuridão
rompida
pelo estalar do raio
barulho
do trovão vem depois
“Estamos aqui talvez para dizer:
casa, ponte, árvore, porta, cântaro,
fonte,
janela – e ainda: coluna, torre...
mas para dizer, compreende, para
dizer as coisas como elas jamais
pensaram ser intimamente.”
Foi o
tempo no tempo
em que
sabia que não sabia
e quase
era santo
oh! mas
quanto pecava nessa minha santidade
como o
brilho das asas da varejeira
parada
no ar espia
era o
tempo em que não sabia
e a
palavra entranhou-se nas coisas
surgiram
as flores a dor o estertor da morte
metamorfoseada
Grande Ceifadora
e houve
então a nudez o sabor o sal
a
tristeza incontida da insignificância
tudo é
tão fugidio
a nuvem
forma indizíveis formas enigmas
era
talvez um bom tempo
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