quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

Llewellyn Medina, O Milagre, II, Coda.


                                   O milagre

                                   II
                                   Coda

A palavra fez nascer vilas inteiras
magicamente uma amendoeira
tornou-se ela mesma um universo tão insondável
quanto o  olhar distante daquele
acaba de divisar as bordas de Hades
mãe generosa de suas entranhas
veio o alimento
que anestesiou aquela geração
canções de protesto – a palavra me ensinou
orações mecanicamente repetidas – a palavra me ensinou
verdades incontestáveis
o operário na cadeia
o operário na cadeia de produção
“fiat lux!” a sabedoria
a máquina de cartão de crédito – senha “1984”
hiroshima nagasaki fila do INSS
foi assim
foi assim que a palavra quase morreu
vieram médicos paramédicos SAMU
padres bispos filósofos vieram
vieram deuses
veio  deus
veio a intolerância
a palavra inventou a palavra solidão
moto contínuo  Pedra de Roseta
começa e finda em si mesma
diz o “You Tube”
a palavra encerra
o fim de todas as coisas


sustentar a palavra
dói tanto quanto o sol de verão
quando entranha nos ossos
mítico/misterioso ofício
como o batismo da criança
                          da cria
um dia andou sobre suas próprias pernas
duendes saltitantes orfeus/eurídices
no oriente falavam-se outras palavras
não era o tempo de babel
hoje é o tempo de babel
os homens sabiam-se uns dos outros
os homens não sabem uns dos outros
olham com espanto o caleidoscópio
mistério da vida
dizem que a palavra voou
há testemunhas desse momento
rumor do vento monção
silenciosas prisões
grilhões quartos escuros
dias sombrios
morre a palavra
outro ourives volta a ouvir seu silêncio
novas chamas saltam
das fricção das pedras.


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