sábado, 7 de maio de 2011

José de Alencar, Um Quarto de Moça; BH, 070502011.

Com efeito, nada mais loução do que essa alcova em que os brocatéis
De seda se confundiam com as lindas penas de nossas aves, enlaçadas,
Em grinaldas e festões pela orla do teto e pela cúpula do cortinado de um
Leito colocado sobre um tapete de peles de animais selvagens.
A um canto, pendia da parede um crucifixo de alabastro, aos pés do qual
Havia um escabelo de madeira dourada.
Pouco distante, sobre uma cômoda, via-se uma dessas guitarras espanholas que os
Ciganos introduziram no Brasil quando expulsos de Portugal, e uma coleção
De curiosidades minerais de cores mimosas e formas esquisitas.
Junto à janela, havia um traste que à primeira vista não se podia definir: era uma
Espécie de leito ou sofá de palha, matizada de várias cores e entremeada de
Penas negras e escarlates.
Uma garça real empalhada, prestes a desatar o voo, segurava com o bico a cortina
De tafetá azul que ela abria com a ponta de suas asas e, caindo sobre a porta,
Vendava esse ninho de inocência aos olhos profanos.
Tudo isto respirava um suave aroma de benjoim, que se tinha impregnado nos
Objetos como o seu perfume natural, ou como a atmosfera do paraíso que uma
Fada habitava.

Nenhum comentário:

Postar um comentário