sábado, 14 de maio de 2011

Vudu; BH, 0140502011; Publicado: BH, 0140502011.

Livre? não, solto das correntes, longe
Das algemas, dos grilhões, mas livre, não;
Liberdade é outra palavra escrita,
Em outra estátua, erguida num
Mar de vingança, estátua de sal
A flutuar no oceano, sem esperança;
Futuro? não há futuro no escuro
Da mente, há trevas, muitas trevas,
Argueiros nos olhos nossos, alheios,
Semelhantes e dessemelhantes;
Escravo? ainda; servil? sempre; rebelde?
Nunca; indignado? com nada; aceita?
Tudo de olhos fechados; parte? fico, e
Não mudo, o medo maior do que a
Mudança, do que a partida e a ida
É abortada; a liberdade fica lá, a
Prisão é aqui, e não queremos
A liberdade, nem tarde, ou de noite,
Ou de manhã; para quê? temos cabrestos,
Temos freios, rédeas, arreios, selas, enfim,
Temos donos, que nos adestram, nos
Ensinam a obedecer; temos mestres,
Somos amestrados, e servimos, cães
Dóceis; ainda não paguei minha
Alforria, meus donos estão afoitos,
Nervosos, querem saber tudo de mim;
Filmam-me a sorrir pelas ruas da
Cidade, cadastram-me, enchem-me
De números e senhas, e tatuam na
Minha alma espíritos, santos, deuses;
Mas, sou escravo pagão, preto velho,
Arrebatado da África, não quero
Saber das leis deles, dos deuses deles;
Eles são as prisões, as cadeias, calam
Meus tambores, meus atabaques, agogôs,
Meus tantãs; ensurdecem meus surdos e
E emudecem os gongos, meus cantos
Lundus; livre? sim, agora um vudu.

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