domingo, 30 de março de 2014

Alguns querem despertar a alegria numa ode; BH, 02101202013; Publicado: BH, 0300302014.

Alguns querem despertar a alegria numa ode,
Bebem vinho,
Bebem muito vinho
E ficam embriagados,
Perdem a lucidez;
Outros querem despertar os músculos,
Usam bombas de esteroides anabolizantes,
Levantam pesos
E malham em academias;
E outrem querem despertar a libido,
Usam viagra e cialis,
Afrodisíacos e outros estimulantes;
Se pudesse escolher, diria que,
O que quero despertar, é a escrita;
Gritar para as letras,
Levantem e ganhem vida;
Gritar para as palavras, falem,
Mas sou mesmo um Lázaro
E dependo dos altos,
Dos universos insondáveis;
E não tenho como despertar a escrita,
Que já nasce natimorta;
Já nasce escrita defunta,
Com cheiro de cadáver,
Com ares sepulcrais,
De cemitérios e de féretros,
De enterros e de semblantes fúnebres,
Macabros duma escrita que é réquiem,
Por si só suicida e mórbida;
Nunca se transformará numa Ode Triunfal,
Numa Ode à Alegria
Numa Ode Marcial,
Numa Ode às Obras de Arte,
Numa Ode às Obras-Primas;
Será sempre uma Elegia,
Uma funesta onde nunca terei
Como ressuscitá-la, pois durmo
E não acordo dos pesadelos estranhos.

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