domingo, 9 de março de 2014

MIKIO, 108; BH, 0210302013: Publicado: BH, 090302014.

Quantas idades têm esses olhos em teu olhar?
Incontáveis idades
Passaram  noutras faces
Pousaram noutros rostos
Viveram noutras eras
São olhos pré-históricos
De escravos
De cristãos jogados às feras
De índios
De negros africanos
De judeus
Na verdade estes olhos nunca tiveram donos,
Esses olhos que eram os donos dos antigos donos
São os meus donos
São do nascer do universo
Dos dinossauros queimados no fogo
São dos planetas donde vêm os grandes meteoros
São olhos chorões
Enchem-se de lágrimas eruditas
Clássicas
Góticas
Neogóticas
Barrocas
Todos os olhos da humanidade choram menos do que estes olhos
As lágrimas destes olhos amenizaram o clima no planeta
Encheram os oceanos
Os mares
Os rios
Os lagos
Continuam a alimentar as nascentes das fontes
Mananciais testemunhas de todas as histórias,
Dão testemunhos de todos os fatos do lado de dentro
Atrás das paredes escuras
Guardam os mistérios sigilos
Estranhos esses olhos tão envelhecidos
Da cor de ossos expostos ao luar
Mas que parecem de recém-nascidos
Estranhos esses olhos que querem aproveitar todos os pensamentos
Querem escrever nas rochas letras em ouro
Nos diamantes palavras de sangue
Penetrar nos crânios ressequidos
Aguar esses terrenos tão áridos

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