Haverá um dia no qual pararemos
Não andaremos nem com os pés doutros
Não pegaremos nem com as mãos doutros
Haverá um dia em que nossos ouvidos serão olvidos
Nossos olhos serão embaçados
Não enxergaremos nem com olhos doutrem
Nem no tato
Nem nonada
Nos recolheremos nalgum lugar
Num sótão
Num porão
Num terreiro
Nem num quintal
Num toco de pau
Num banco de pedra
Não teremos nem a nós mesmos
Quereremos quebrar todos os espelhos que nos refletir
Não acreditaremos que aquelas imagens nos fundos dos espelhos somos nós
Haverá uma noite em que sentiremos frios
Enroscaremos nossos corpos uns noutros
Sentiremos mais frio
Colocaremos cobertas cobertores
Edredons lareiras congelaremos
Não quereremos ser mais nós mesmos
Haverá uma ocasião
Que quereremos ser tudo
Menos nós mesmos
Pediremos para que noutra encarnação
Sejamos torrões tijolos monturos entulhos murundus
Menos gentes pessoas entes
Sejamos peixes anzóis molinetes faróis
Haverá um dia no qual não haverá um dia
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