Como fico alegre quando dou à luz
Não parece
Mas fico alegre quando termino de parir
Gosto de parir
Sim
Gosto de ser uma puta que pariu
Desde que seja um monte de filhos bastardos
Um rebanho rebelde de ovelhas negras
De bodes expiatórios
Doutros bogodôs
Cordeiros carneiros em espinhais
Fico feliz de comandar esse hospício de loucos
Esse sanatório de doidos varridos
Ttodos a me chamarem de mãe
Uns berram
Outros urram
Outros escoiceiam-se
Lançam-se contra as paredes
Furam os olhos
Arrancam as línguas
Mordem-se de sede
Querem beber o sangue uns doutros
Ou comer as carnes
Todos saíram dos meus úteros
Dos meus ovários
Óvulos
Dos meus espermatozoides
É uma cambada desvairada de fetos
De restos de abortos
Fico feliz
Qual é o alienado que não é feliz?
Qual é o mentecapto que não solta gargalhadas?
Inda mais com esses monturos de filhos bizarros
Esses animais bisonhos
Quanto mais excitado fico
Mais fértil
Profuso a engravidar
Haja noites
Haja madrugadas
Vasos para vomitar
Nos primeiros nojos de gravidez herética
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